A 31.ª edição do Congresso Nacional de Medicina Interna incluiu um momento de reflexão crítica sobre a atratividade da Medicina Interna, através de um debate moderado por Pedro Carvalhas. A sessão reuniu quatro intervenientes com experiências distintas, promovendo uma análise plural sobre os fatores que influenciam o interesse pela especialidade, tanto a nível institucional como individual.
“O internista não é um luxo, o internista é absolutamente obrigatório em todos os hospitais e há evidências de que ter Internistas nos nossos serviços, não só no serviço de Medicina Interna, mas transversalmente, pode reduzir custos e tornar os hospitais mais eficientes, mais capazes de responder a crises, como foi a COVID-19”, destacou Luís Duarte Costa, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e um dos convidados do debate, que refletiu a partir da visão dos hospitais privados.
A sessão contou também com a intervenção de Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que partilhou a perspetiva do ponto de vista da administração. A sua apresentação abordou as políticas de gestão de Recursos Humanos, a importância da valorização da carreira médica e os desafios administrativos na captação e retenção de Internistas no setor público. O orador defendeu a criação de modelos de trabalho atrativos e sustentáveis, com foco no reconhecimento e na autonomia clínica.
“Respeitar as preferências é muito importante. Nós vemos muitas vezes alguém que se diferenciou ou fez estágios no estrangeiro. Por outro lado, é necessário criar as equipas integradas. Não só os CRIs, mas de facto clínicas agregadas ao grupo de patologias, e criar incentivos associados ao valor produzido”, explicou Xavier Barreto.
Por outro lado, o presidente da APAH defende a relevância de encaixar os Internistas em posições de liderança hospitalar. “Devemos criar respostas alternativas ao serviço de urgência lideradas por Internistas. Para além disto, permitir aos hospitais contratar os médicos que formaram e diferenciá-los tendo em conta a ideia de meritocracia. Conseguir pagar melhor aos melhores, distinguir os melhores através de incentivos e associá-los ao valor.
Seguiu-se Cristina Brás, que representou a realidade dos hospitais públicos, focando-se no papel central dos Internistas na organização dos cuidados hospitalares e no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “É uma especialidade universal e integradora. De facto, é uma especialidade pivô, que abre oportunidades e exige liderança”.
Por fim, Ana Rita Ramalho, recém-especialista em Medicina Interna, trouxe um testemunho pessoal e inspirador sobre os motivos que a levaram a escolher a especialidade. Abordou os desafios do Internato, sem excluir as dúvidas que surgem durante o percurso. “Sabemos que o caminho vai ser trabalhoso, independentemente da especialidade. Se queremos ser bons, vamos ter trabalho. Portanto, temos de transmitir essa inspiração. Não temos de captar toda a gente para Medicina Interna, mas não podemos deixar que as pessoas que gostam se afastem”.
(23/05/2025)