No 31.º CNMI, o investigador Paulo Matafome apresentou uma visão inovadora sobre os mecanismos precoces e silenciosos que precedem as complicações metabólicas da obesidade, defendendo a necessidade de uma abordagem mais preventiva e personalizada.
Na sessão dedicada ao tema “Fatores de risco, marcadores de diagnóstico e preditores de resposta à terapêutica – o que há de novo?”, destacou que a resistência à insulina — elemento central das complicações da obesidade — não está diretamente associada ao índice de massa corporal, mas sim à disfunção do tecido adiposo. “Estas alterações começam de forma silenciosa, muito antes de se manifestarem alterações no metabolismo da glicose”, explicou.
A comunicação incidiu sobre a importância de identificar marcadores sanguíneos precoces que sinalizem o início dessa disfunção tecidular, permitindo prever, de forma mais eficaz, o risco de desenvolvimento de doenças associadas à obesidade como a Diabetes tipo 2, esteatose hepática, doenças cardiovasculares e inflamatórias. A apresentação sublinhou também que fatores como o crescimento vascular, a resposta antioxidante ou a função metabólica desempenham papéis compensatórios até serem ultrapassados, dando origem a processos inflamatórios irreversíveis.
Para Paulo Matafome, este é um tema urgente a debater. “É essencial perceber que a obesidade, mesmo sem sinais clínicos evidentes, já representa uma agressão metabólica aos tecidos. Esta consciencialização é vital para uma verdadeira prevenção.”
Na mesma linha temática, João Crespo Santos apresentou a comunicação “O que sabemos e o que fazemos”, integrada na mesma mesa-redonda. O internista destacou o carácter interativo da sua sessão, pensada para gerar discussão em torno de ideias recentes, conhecimento atualizado e polémicas relevantes.
“A obesidade foi, é e será cada vez mais um tema prevalente, tanto a nível mundial como em Portugal,” afirmou. O médico internista lembrou que “em Portugal, mais de 50% da população tem pelo menos excesso de peso, e cerca de um quarto dos adultos cumpre os critérios clássicos de obesidade.” Para João Crespo Santos, este é “o momento de colocar o tema na ordem do dia, com base na contínua investigação e aprofundamento científico.”
Ainda neste painel, André Lázaro apresentou uma sessão dedicada ao tratamento cirúrgico da obesidade. O especialista participou também como palestrante no curso pré-congresso sobre a obesidade, reforçando o foco na importância de abordagens integradas.
Durante a intervenção, André Lázaro sublinhou que a obesidade “requer uma abordagem multidisciplinar para garantir o melhor resultado a longo prazo para os doentes”. Referiu ainda que, no século XXI, será indispensável promover a colaboração entre a sua área de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e todas as especialidades que integram as equipas dos centros cirúrgicos de tratamento da obesidade, de forma a garantir não só o controlo da doença, mas também a sua prevenção.
Neste sentido, todos os palestrantes destacaram a relevância do CNMI enquanto espaço privilegiado de partilha e reflexão. Paulo Matafome considerou o evento uma “plataforma fundamental para aproximar a investigação translacional da prática clínica”, enquanto João Crespo Santos destacou o seu valor como “um espaço de discussão científica, nacional e internacional, onde diferentes ideias e formas de trabalhar se encontram, sempre com o doente no centro da reflexão”. Por sua vez, André Lázaro realçou a importância do ambiente de proximidade proporcionado, valorizando o reencontro entre colegas e a troca de experiências como elementos essenciais para o debate construtivo e a atualização contínua em Medicina.
(23/05/2025)