Envelhecer é um processo inevitável e cabe aos profissionais de saúde que as faixas etárias mais avançadas tenham um acompanhamento digno e valorizado. Delírium, Fragilidade, Polimedicação e Sexualidade são os pontos-chave em jogo na Mesa Redonda “Flashes em Geriatria” da 28.º Congresso Nacional de Medicina Interna da SPMI, onde a literacia em saúde não tem idade.
Delírium é a “síndrome de início agudo e curso flutuante, caracterizada por alterações do estado de consciência, défice de atenção, disfunção cognitiva e sintomas neuropsiquiátricos, com uma causa subjacente atribuível”. Gracinda Brasil é o elemento da mesa que se dedica a elucidar o público sobre esta emergência médica e o seu objetivo foi “sensibilizar os profissionais de saúde para uma entidade que durante muito tempo foi tida como uma inevitabilidade de quem está internado ou de quem é idoso”. É manifestada a ideia de que a intervenção do internista deve ser multi-modal e interdisciplinar e que é imperioso estabelecer protocolos institucionais que abordem esta patologia nos diversos níveis de cuidados.
Heidi Gruner foi quem deu voz à problemática da fragilidade, a qual considera envolver um conceito amplo e com critérios bem definidos, que já é familiar aos internistas, seja em situação de consulta ou internamento. A oradora deixa explícito que o diagnóstico não é o elemento prioritário. “O ideal para o doente não é diagnosticar a fragilidade, mas sim perceber qual a síndrome geriátrica em que podemos e devemos atuar. A pergunta é até que ponto é que podemos obter algum grau de reversibilidade”. Esta contribuição serve, também, como ponte para a colaboração da geriatria com outras especialidades, uma vez que, na visão de Heidi Gruner, a avaliação geriátrica global influência indubitavelmente as tomadas de decisão, nomeadamente na seleção da terapêutica personalizada ao doente (por exemplo a escolha do tratamento da neoplasia, colocação de dispositivos como a TAVI, entre outros).
Por outro lado, os números que envolvem a geriatria podem ser alarmantes e João Fonseca utilizou-os para consciencializar quem estava presente. “Infelizmente, Portugal é um dos 3 países da Europa com maior prevalência de polimedicação.” No entanto, a polimedicação nem sempre é inadequada e o profissional vê esta oportunidade para esclarecer mais sobre o tópico e partilhar os problemas que acarretam a prática com os colegas de área. “O termo polimedicação generalizou-se na nossa prática diária. Porém, tornou-se ao longo destes anos num chavão, cujo uso quase nunca se traduz numa mudança efetiva da terapêutica do doente. É certo que hoje há mais formação pré e pós-graduada, e que se desenvolveram alguns projetos nesta área. Mas na minha perspetiva, continuamos muito distantes do que podemos fazer com os recursos disponíveis.”
A questão da sexualidade foi trazida a discussão por Rafaela Veríssimo. A convidada afirmou que, devido a tabus e estigmas criados pela cultura e a sociedade, ainda é um tema que os doentes mais velhos têm vergonha de falar com os médicos. Contudo, as alterações hormonais não parecem ter impacto na sexualidade da população geriátrica que, embora sofra adaptações ou não seja tão vigorosa, pode ser tão satisfatória como nos jovens. “A perceção de que os idosos são assexuados vem do facto de se confundir os idosos quando se fala em sexualidade pela elevada prevalência de comorbilidades. Deve ser estimulada a formação dos profissionais de saúde nesta área, elaboração de recomendações de tratamento para promover a qualidade de vida na população geriátrica, que muitas vezes é negligenciada”.
(04/10/2022)