“Problemas na Gravidez: Alerta e Oportunidade” foi a designação dada à mesa-redonda do 28.º Congresso da SPMI, onde foram abordadas patologias associadas à gravidez, nomeadamente o Tromboembolismo Venoso, a Diabetes Gestacional e as Infeções Virais.
“O tromboembolismo venoso (TEV) é um problema de saúde pública, estando a gravidez associada a um aumento do risco de TEV. A doença tromboembólica é uma das principais causas de morte materna”, começou por explicar Jorge Lima. Fisiologicamente existem fatores que contribuem para a existência de tromboembolismo venoso na gravidez, como é o caso da Tríade de Virchow — Hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão vascular.
Segundo o orador, todas as mulheres devem ser submetidas a uma avaliação dos fatores de risco trombótico de forma a estabelecer quais as que necessitam de tromboprofilaxia farmacológica no período pré e pós-natal. A avaliação do risco deve ser feita de forma repetida e continuada no internamento hospitalar e sempre que surjam outras intercorrências na gravidez.
Por outro lado, mulheres com elevado risco de TEV devem ter uma avaliação pré-concecional e programação específica quando há história prévia e confirmada de TEV, sob anticoagulação crónica por TEV recorrente, e quando têm válvulas cardíacas mecânicas.
“As mulheres estão em risco de TEV, desde o início da gravidez até ao final do puerpério”, concluiu.
Na mesma linha, Inês Palma dos Reis apresentou os sintomas e sinais clássicos de TVP/ TEP, os quais são: dor, edema/ volume assimétrico MI, dispneia súbita, dor torácica, tosse, febre e síncope. A palestrante explicou vários cenários possíveis na gravidez, assim como quais as terapêuticas mais adequadas para cada caso e tratamento do TEV na grávida e puérpera.
Relativamente às oportunidades de identificação e controlo de tromboembolismo, Inês Palma dos Reis apontou ser necessário explicar os cuidados para o resto da vida, os fatores de risco reversíveis e os cuidados em futuras gravidezes.
“A incidência de eventos trombóticos é baixa, mas a mortalidade elevada (20-30%), sendo mandatório que, perante uma suspeita de diagnóstico, se inicie o tratamento (HNF/HBPM) e proceder a marcha diagnóstica com ECD adequados”, concluiu, referindo que a abordagem deve ser multidisciplinar e que antes da alta deve ser estabelecido um plano detalhado para a vida e gravidezes futuras.
Passando para o tema “Diabetes Gestacional”, Sofia Mateus apresentou uma linha cronológica relativamente a este tópico.
De seguida, expôs os principais fatores de risco para desenvolver diabetes gestacional, no entanto, alertou para o facto de as Sociedades dedicadas ao tema não estarem em consenso acerca deste ponto.
A palestrante afirmou que os critérios de diagnóstico, atualmente, são baseados nos resultados do estudo Hyperglycemia and Adverse Pregnancy Outcome (HAPO) e de acordo com os critérios da Associação Internacional dos Grupos de Estudos de Diabetes e Gravidez (IADPSG).
Por fim, referiu que a terapêutica não farmacológica deve ser baseada na alimentação e na prática do exercício físico, devendo ser acompanhados por um nutricionista. Deve iniciar-se uma terapêutica farmacológica quando os objetivos não forem atingidos num período de uma a duas semanas.
“Diabetes é uma complicação importante durante a gravidez, com implicações a curto e longo prazo para a mulher e para o recém-nascido”, finalizou.
Debruçando-se sobre o mesmo tema, Elsa Landim explicou a importância de uma vigilância multidisciplinar, nomeadamente com o acompanhamento de obstetra, endocrinologia, medicina interna, nutrição, enfermagem e assistente social, sendo fundamental que a grávida com diabetes seja acompanhada por todos estes profissionais.
Em relação aos riscos e complicações materno-fetais, a oradora apresentou os seguintes: infeções, PE e eclâmpsia, hidrâmnios, hemorragia pós-parto, parto vaginal traumático e cesariana.
Aproveitou, ainda, para reforçar a importância de uma terapêutica não farmacológica, concretamente a alimentação saudável, exercício físico e controlo da progressão ponderal.
“A gravidez é um estado diabetogénico”, concluiu.
Passando para o tema das infeções virais, Nádia Charepe explicou que existem vírus emergentes que podem promover as infeções virais.
“A transmissão vertical de infeções virais é uma realidade”, disse a oradora. De seguida, apresentou o citomegalovírus (CMV) durante a gravidez, sendo a principal causa infeciosa de malformações congénitas, atraso psicomotor e surdez.
Falou, ainda, da varicela zoster, parvovírus B19 e SARS-CoV-2, sendo fundamental apostar na prevenção. Alertou para os vírus emergentes.
Umbelina Caixas, durante a sua apresentação, ainda sobre as infeções virais, optou por abordar a infeção VIH, desde o diagnóstico, pré-conceção, gravidez e pós-parto. Uma vez mais, foi referida a importância de um seguimento multidisciplinar.
A oradora explicou, ainda, a relação existente entre o VIH e a amamentação, bem como o porquê de não ser recomendada, de forma rotineira.
“O que devemos fazer é apoiar a grávida e seguir a grávida”, concluiu.
Portanto, nada mais adequado do que o próprio título desta mesa-redonda.
(03/10/2022)