Na conferência de encerramento do 30.º Congresso Nacional de Medicina Interna, Luís Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), apresentou o tema “Alterações climáticas, saúde e a responsabilidade dos médicos”. Luís Campos destacou a importância de identificar as principais ameaças ambientais que afetam a saúde das populações, discutindo a transição epidemiológica causada pelas alterações climáticas e a degradação ambiental. Sublinhou a necessidade de reduzir a pegada ecológica do setor da saúde e encorajou os médicos a envolverem-se na luta contra as alterações climáticas.
“Os maiores desafios ambientais que enfrentamos são a superpopulação, as alterações climáticas, a degradação ambiental e a perda da biodiversidade”, afirmou, destacando que as alterações climáticas estão a seguir cenários preocupantes, com um aumento de temperatura global de 1,2º C já registado e previsões de um aumento de 2,7º C até 2100, se as políticas atuais não mudarem. “A degradação ambiental é alarmante: 75% da superfície terrestre livre de gelo já foi significativamente alterada, e perdemos cerca de 150 espécies por dia”, acrescentou.
O presidente do CPSA mencionou um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), indicando que um quarto da carga global de doenças se deve a fatores ambientais modificáveis, afetando principalmente as populações vulneráveis. Apontou que doenças como as cardiovasculares, respiratórias e infeciosas estão intimamente ligadas às condições ambientais. Além disso, a degradação do meio ambiente está a provocar movimentos migratórios, conflitos e um aumento nas doenças mentais. A frequência crescente de eventos climáticos extremos como ciclones, inundações e incêndios também foi abordada, juntamente com a mudança na ecologia das doenças transmitidas por vetores, aumentando o risco de pandemias zoonóticas.
“Embora o setor da saúde seja vital para responder a estas transições, é também responsável por 4,4% das emissões globais de gases de efeito estufa. Em Portugal, essa percentagem é de cerca de 4,8%”, disse. Reforçou a necessidade de metas de neutralidade carbónica como prioridade política, mas também a responsabilidade individual dos profissionais de saúde. “Nós, profissionais de saúde, não temos o direito de comprometer o futuro das próximas gerações. Temos a obrigação ética de nos envolver na luta contra as alterações climáticas”, afirmou, mencionando a criação do CPSA, que já conta com 82 associados.
A apresentação de Luís Campos destacou a interseção crucial entre saúde e ambiente, enfatizando o papel essencial dos médicos na mitigação das alterações climáticas e na proteção da saúde pública.
Quanto à importância do congresso, disse que “os congressos são a expressão da vitalidade de uma especialidade, da qualidade do seu trabalho e da investigação em curso, além de serem uma oportunidade única para atualização científica e intercâmbio de experiências”.
Luís Campos espera que o evento tenha promovido uma reflexão profunda sobre problemas atuais da especialidade e resulte em propostas concretas e pragmáticas para os decisores políticos.
(26/05/2024)