No palco do 30.º CNMI, Filipe Nery liderou uma sessão crucial sobre um tema desafiador: a coagulação no doente com cirrose hepática. A sua palestra abordou a complexidade da fisiologia e patofisiologia da coagulação nesses doentes.
“Os objetivos passam por esclarecer os conceitos atuais sobre a fisiologia e patofisiologia da coagulação e dos distúrbios a ela inerentes num doente com cirrose, e abordar as indicações para hipocoagular um doente com doença hepática avançada, qual o anticoagulante ideal, fazendo ênfase ao atual conhecido perfil de segurança e potencial benefício não só na reversibilidade do evento trombótico como, também, na melhoria da sobrevida em situações específicas”, começou por dizer.
Destacou a mudança de paradigma da cirrose como uma condição “pró-sangrante” para “pró-coagulante”, ressaltou o risco aumentado de eventos tromboembólicos em doentes com cirrose e partilhou perspetivas das recomendações da EASL e do VALDIG, que terão um impacto significativo na prática clínica.
Para o especialista, a importância do 30.º Congresso Nacional de Medicina Interna é evidente. “Os Congressos são ponto de encontro entre colegas, de debate, esclarecimento e clarificação de novas ideias, permitindo atualização do conhecimento técnico-científico, por forma a garantir o melhor cuidado aos nossos doentes. Contudo, fica sempre em aberto a parte mais importante para chegar ao diagnóstico: o falar com o doente, como fazê-lo, e a importância do espírito ‘inquieto’ que deve estar sempre presente no médico internista. O foco neste ponto, de suma importância para criar a base de dados para listar os problemas e encetar a investigação, tem-se perdido ao longo do tempo e agudizado. Os médicos têm que ‘perder’ mais tempo a olhar e conversar com os doentes, e menos sobre o ecrã do computador. Fica a dica de um tema a abordar num próximo evento”, explicou.
Filipe Nery expressou confiança no sucesso do congresso, elogiando o programa e os palestrantes, e parabenizando a comissão organizadora pelo trabalho realizado.
Ainda dentro do tema da doença hepática, “Hepatite E: um diagnóstico de importância crescente”, foi o tópico apresentado por Rita Jorge, que enfatizou a necessidade urgente de aumentar a consciencialização e as suas diversas apresentações clínicas. A especialista frisou a importância de divulgar as evidências mais recentes sobre esta patologia, visando uma melhor compreensão e gestão da doença.
Rita Jorge sublinhou o aumento alarmante da incidência da Hepatite E na Europa e a necessidade premente de aprofundar o conhecimento sobre o diagnóstico, prevenção e tratamento desta condição. “É crucial que os profissionais de saúde estejam bem informados sobre os métodos de diagnóstico mais eficazes e as estratégias de prevenção, para melhor servir os pacientes e controlar a propagação da doença”, afirmou.
Para terminar, a especialista revelou que o 30.º CNMI é “o evento agregador da nossa especialidade e um momento único de partilha de conhecimento e experiências”.
“Ascite Refratária: novos paradigmas na sua abordagem” foi o tema trazido a debate por Inês Pinho. A apresentação teve como objetivo proporcionar aos internistas uma perspetiva atualizada sobre as melhores práticas para tratar doentes com ascite refratária, destacando a importância de alinhar as soluções terapêuticas com a estratificação da doença e focando na ambulatorização dos cuidados e no conforto dos doentes e famílias.
O ponto central da sua palestra era ir além dos tratamentos tradicionais como dieta, diuréticos e paracenteses.
A importância do congresso foi destacada por Inês Pinho, especialmente num momento de crise para a especialidade de Medicina Interna. “É fundamental uma reflexão que conduza a caminhos renovados. Neste momento particular, é ainda mais importante que a realização destes eventos consiga demonstrar, enaltecer e celebrar o valor e o encanto da especialidade”, afirmou.
(25/05/2024)