No segundo dia do 28.º Congresso Nacional de Medicina Interna da SPMI a Sala Neptuno deu espaço à mesa-redonda “Abordagem da demência na prática clínica atual – diagnóstico e tratamento”. Através das visões dos oradores foi possível refletir sobre vários pontos que envolvem a demência, nomeadamente a sua ligação com a geriatria, os fármacos relacionados e a forma digna de tratamento do doente.
Paulo Almeida alertou para o crescimento exponencial da prevalência da demência, enquanto um dos maiores desafios para os cuidados de saúde e sociais do século XXI e consequência do envelhecimento progressivo da população. A Geriatria, através da Avaliação Geriátrica Global, desempenha aqui um papel essencial no diagnóstico mais precoce e seguimento da doença, através da intervenção multidimensional. “Na verdade, é fundamental não só a otimização das comorbilidades e a desprescrição de fármacos inapropriados, como também a avaliação e intervenção de síndromes geriátricas como a sarcopenia e a desnutrição e a reestruturação das redes de apoio social e familiar a fim de preservar a capacidade funcional e a autonomia e permitir um envelhecimento com maior qualidade de vida”, esclareceu o convidado.
A frase de Teepa Snow “Até que haja cura há o cuidar” foi a premissa base de Patrícia Paquete. “Neste momento não há cura para a demência, no entanto temos milhares de pessoas a viver com essa doença e que têm de ser cuidadas. Cuidar e dignificar têm de caminhar juntos, se no processo de prestação de cuidados a dignidade da pessoa é posta em causa, então o processo de cuidar falhou”.
A oradora aproveitou a sessão para reforçar que é possível viver com esta patologia e ter bem-estar, afirmando que a sua missão é colocar esse bem-estar no topo das prioridades diárias dos parceiros de cuidados de quem vive com demência. “É minha intenção ajudar à reflexão sobre a forma como as pessoas que vivem com demência em Portugal são tratadas, não só em casa e nas Estruturas Residenciais para a Pessoa Idosa, mas também nos hospitais. Se depois de me ouvirem, conseguirem questionar algumas das práticas que estão normalizadas nos dias de hoje (como a contenção física), já ficarei muito satisfeita”.
Lia Fernandes desmistificou o tratamento farmacológico associado à demência e a sua atualização, abordando inúmeros aspetos clínicos e até mesmo controvérsias. Aqui destaca a Doença de Alzheimer e a sua forte prevalência, que provoca uma crise de saúde global com várias repercussões, como é caso dos custos comportados pelo sistema de saúde e pela sociedade em geral. “O diagnóstico de Doença de Alzheimer (DA) aumenta com o crescimento da população idosa em todo o mundo e, muito particularmente, em Portugal, sendo um dos países mais envelhecidos da Europa. Deste modo, torna-se necessário o desenvolvimento de terapêuticas que possam prevenir, atrasar o início, travar a progressão da doença e melhorar os sintomas cognitivos e as manifestações comportamentais desta demência que afeta um número cada vez mais expressivo de idosos”.
(03/10/2022)